Globo oferece prato de lentilhas a evangélicos e alguns Esaús aceitam
"Business
is business", já diria o caipira. Com a audiência em baixa e a ideologia
gospel em alta, era só questão de tempo para que a Rede Globo percebesse
a mina de ouro que é o mercado "evangélico" no Brasil, antes território cativo
da Record do bispo (enquanto a Globo se especializou em produzir novelas
espíritas, diga-se de passagem). Depois de passar décadas ignorando e
ridicularizando os evangélicos em suas novelas e minisséries, a Globo resolveu
realizar o evento especial de final de ano, intitulado "Promessas", um fracasso
de público ao vivo que vai ao ar em videotape na tarde deste domingo, e que
certamente fará os seus artistas gospel (da Som Livre) venderem mais
discos. Foi o suficiente para uma leva de evangélicos, Malafaia incluído, achar
que o céu desceu na forma de Vênus Platinada, como a Globo sempre foi conhecida.
Não deixa de ser (mais) um misticismo pra esse povo seguir. Como Esaú vendeu seu
direito de primogenitura por um prato de lentilhas (Hebreus 12:16), ao primeiro
aceno mercadológico da antes Babilônia televisiva, lá estavam na rebarba vários
cantores e cantoras, sempre com a desculpa na ponta da língua de que estavam
fazendo um "serviço" pra Deus. Não é surpresa, portanto, que alguns tenham
viajado na maionese gospel, dizendo que "Deus tocou o coração da Globo".
Agora, quem diria, além de cozinhar lentilhas na Ana Maria Braga, a Globo também
"tem coração"... confira na notícia publicada na Folha de S. Paulo de hoje:
Cantora gospel diz que 'Deus
tocou o coração da Globo'
Festival
Promessas reuniu público abaixo do esperado no Rio, mas artistas e fiéis o
classificam como 'evento histórico'
Rede
carioca, que exibe show hoje, montou estrutura com um helicóptero, câmeras de
alta definição e gruas
MARCO
AURÉLIO CANÔNICO
DO RIO
DO RIO
"Este
é um evento histórico", dizia o animador de palco, tentando inspirar o pequeno
público que aguardava o início do festival Promessas, no sábado passado. "Você
vai poder dizer que esteve no primeiro evento evangélico que a Globo organizou!"
No
palco como na plateia, a visão de que se tratava de um "evento histórico" estava
disseminada entre os fiéis -boa parte vinda de municípios da Baixada Fluminense
e de subúrbios distantes do Aterro do Flamengo (onde o festival aconteceu).
O
baixo quórum não preocupava: todos apostavam na capacidade da emissora líder de
disseminar "a palavra de Deus" para uma audiência abrangente.
"É
a concretização de um clamor de muitos anos. Vai marcar a história", disse a
pastora e cantora Ludmila Ferber. "É maravilhoso que a Globo tenha abraçado a
causa e entendido quão poderosa é a mensagem de Deus."
Fé
à parte, o aspecto comercial da empreitada -para a qual a Globo montou uma
grande estrutura de divulgação e de transmissão (14 câmeras de alta definição,
gruas, helicóptero)- não escapou aos religiosos.
"A
Globo era a única emissora que não abria para os evangélicos. Notou que estava
ficando para trás", disse Erisvaldo Oliveira, 26, fiel da primeira Igreja
Batista da Ponte Preta, de Magé (RJ).
"Ela
sabe que vai passar a ter muito mais audiência."
A
disputa pelos telespectadores (e pelos ouvintes, já que parte dos artistas tem
discos lançados pela Som Livre, gravadora ligada à Globo) era, no entanto,
relativizada pelos participantes.
"Eu
sei que, a princípio, todo mundo pensa em grana, em 'business'. É claro que isso
existe, nós somos de carne e osso, mas acima disso tudo está o propósito de Deus
para esta nação", disse o cantor Fernandinho, um dos mais aguardados do
festival.
Os
evangélicos também celebravam o evento como um ponto de inflexão no tratamento
dispensado a eles pela emissora carioca.
"A
Bíblia diz que todo joelho se dobrará e toda língua confessará que Deus é o
Senhor", afirmou a enfermeira Janaína Silva, 28, citando um trecho da Carta aos
Romanos.
"A
Globo fez isso agora porque Deus tocou o coração deles. Era o momento certo,
Deus não chega atrasado", disse a cantora Damares.
Fonte: O
contorno da sombra
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