Por Rev. Gildásio Reis
Falar de vocação não é uma tarefa
fácil. Como explicar os vislumbres de certezas espirituais? Pode a vocação de
Deus ser descrita? Talvez devesse deixar tal desafio para os mais experientes
nas lidas pastorais; não obstante, quero pisar neste terreno mui solenemente.
Nestes doze anos de ministério tenho visto alguns pastores perderem o rumo
original e ministérios infrutíferos com igrejas fracas e em declínio. Entendo
que grande culpa dos problemas destas igrejas deve-se a nós mesmos, seus
pastores. Notem as palavras de Eugene Peterson:
“Os pastores estão abandonando
seus postos, desviando-se para a direita e para a esquerda, com freqüência
alarmante. Isto não quer dizer que estejam deixando a igreja e sendo
contratados por alguma empresa. As congregações ainda pagam seus salários, o
nome deles ainda consta no boletim dominical e continuam a subir no púlpito
domingo após domingo. O que estão abandonando é o posto, o chamado.
Prostituíram após outros deuses. Aquilo que fazem e alegam ser ministério
pastoral não tem a menor relação com as atitudes dos pastores que fizeram a
história nos últimos vinte séculos”.
Uma reflexão dura, mas realista.
Alguns pastores estão abandonando seus postos. Após ler estas considerações de
Peterson, fiz a seguinte pergunta: O que tem levado nossos jovens ao
ministério? Minha pergunta levanta a questão sobre as reais motivações de
nossos vocacionados para o Ministério Pastoral. Talvez nem todos têm
consciência de que errar na vocação trás conseqüências desagradáveis para si
mesmos e também para suas futuras igrejas. Embora uma vaga vocação para o
ministério possa levar ao pastorado, não sustentará o pastor através das
ásperas realidades da vida na igreja. É preciso avaliar as verdadeiras
motivações, antes de ingressar nos seminários.
Por motivação queremos dizer os
motivos internos que levam uma pessoa à ação. Todos nós tomamos decisões na
vida motivadas por algo ou alguma coisa em dado momento de nossa existência e
considerando as diversas situações da vida. Falando da motivação que leva um
jovem a decidir pelo ministério, entendemos que todo genuíno vocacionado deve
ter como ambição ser um instrumento de Deus. Sua única motivação para ser
pastor é seu desejo ardente de realizar a obra de Deus e para a glória de Deus.
Contudo, é possível que nem sempre esta seja a mola propulsora de um ou outro
aspirante ao pastorado. A título de alertar-nos para este perigo, alisto cinco
possíveis motivações erradas e egocêntricas que podem levar alguém ao
Ministério:
1) Adquirir estabilidade
financeira: Os motivos da nossa sociedade secular são controlados pelo cifrão.
Vivemos uma época de recessão e de desemprego. São só na cidade de São Paulo,
quase 2 milhões de desempregados. O tempo médio hoje para alguém que perde o
emprego é de 1 ano até conseguir outro. É com temor e tremor que arrisco
raciocinar desta maneira, mas temo que alguns jovens em nossas Igrejas passem a
compreender o ministério como uma profissão e um meio de ganhar a vida. Penso
que todo candidato ao ministério deveria responder a esta pergunta: O motivo
que tenho para desejar ser pastor é porque serei pago para isto?
Quanto a isto, Spurgeon escreveu:
“Se um homem perceber, depois do mais severo exame de si mesmo, qualquer outro
motivo que a glória de Deus e o bem das almas em sua busca do pastorado, melhor
que se afaste dele de uma vez, pois o Senhor aborrece a entrada de compradores
e vendedores em seu templo”.
2) Status social: Não é de hoje
que a sede de posição cega as pessoas . O “ser pastor”, mesmo que em nossos
dias não é lá muito bem visto, até mesmo pelos escândalos envolvendo alguns
líderes cristãos, os títulos de Reverendo e Pastor transmitem uma certa dose de
autoridade que dignifica o ser humano, e lhe confere status social. Não
obstante, liderar não é fácil. Às vezes pregar pode ser uma tortura. Pastorear
ovelhas relutantes é uma atividade esmagadora. Ser uma figura pública sob os
olhares de todos e viver sob constantes cobranças, mesmo que estas não sejam
verbais, sacodem o nosso coração. Nós pastores inevitavelmente armazenamos um
certo nível de frustração em nosso trabalho. Ficamos frustrados com os
conflitos da igreja, com a futilidade de nossos planos e com o fracasso do
nosso povo. O status social não pode sustentar o nosso ministério e fazer com
que vivamos nossa vocação de modo responsável.
Em I Tm 3:1, Paulo escreve: “se
alguém deseja o pastorado, excelente obra almeja” O termo “deseja” na língua
grega é epithumeo, que tem o significado de “colocar o coração, ambicionar,
desejar”. Precisa ser observado que o objeto do desejo é a obra, o serviço, e
não a posição ou status. Este foi um erro cometido por Tiago e João (Mc
10:35:45). Alguém motivado por posição elevada e pelo desejo de atenção trará
com certeza prejuízo a si mesmo e à Igreja de Cristo.
3) Necessidade de firmar-se como
pessoa: É possível que alguém caia na armadilha de desejar o ministério por
entender que a posição e o status conquistado forçam os outros a lhe dedicarem
atenção. O desejo que um ser humano tem de que os outros o respeitem é um sinal
louvável de sua autoestima. Não há nada de errado em desejar ser respeitado e
admirado, mas não é a motivação correta para o ministério. É comum termos
notícias de líderes que avaliam sua eficiência ministerial através de quantas
pessoas da denominação o conhecem. Conheci um pastor que guardava todo exemplar
do jornal Brasil Presbiteriano em que saía uma matéria com sua foto e que
falava a seu respeito. São líderes que buscam a fama e serem aplaudidos pelos
homens.
4) O Senso de obrigação: Há quem
se torne ministro, pois depois de ter passado pela família, conselho,
presbitério e ter feito o curso teológico no seminário, sente-se na obrigação
de ter que ir até o fim de seu “chamado”. Sente-se culpado se não fizer aquilo
que todos esperam dele. É desnecessário dizer que este líder não desenvolverá
seu ministério com alegria e prazer. Um velho pregador deu um sábio conselho a
um jovem quando indagado sobre sua opinião quanto a seguir o ministério: “Se
você pode ser feliz fora do ministério, fique fora, mas se veio o solene
chamado, não fuja” Precisamos instruir aos nossos seminaristas que mesmo que
tenham feito o curso de teologia no Seminário, caso sintam que não foram
chamados ao pastorado, entendam que o tempo de estudos e de preparação não será
perdido. Poderão ser uma excelente ajuda às igrejas como pregadores,
professores, oficiais e líderes. O peso de um sentimento de obrigação não pode
levar ninguém ao pastorado. O Ministério deve ser obedecido por vocação e não
por obrigação. Alguém pontuou o seguinte: “os ministros sem a convicção do
chamado carecem muitas vezes de coragem e carregam uma carta de demissão no
bolso do paletó. Ao menor sinal de dificuldade, vão-se embora”.
5) Falta de opções: É possível
que alguém decida ser um pastor, pois depois de tentativas inglórias de
ingressar em alguma outra faculdade, ou por não ter condições financeiras de
custear um curso em uma universidade , percebeu que poderia fazer um curso de
nível superior pago pelo Presbitério e ainda recebendo ajuda de custo de sua
Igreja. Nossos jovens precisam ver que o candidato ao ministério, sendo seu
chamado imposto por Deus, não é uma preferência entre outras alternativas, ou
por falta delas. Ele é pastor não por falta de alternativas, mas porque esta é
a única alternativa possível para ele, e insisto: Vocação pastoral não pode ser
por falta de opções, mas porque foi imposta por Deus.
Todos nós que somos pastores
sabemos como o ministério é desgastante, e ninguém pode cumprir o difícil papel
de pastor se não tiver a consciência de que foi comissionado por Deus. Na
qualidade de pastores e tutores eclesiásticos, faz-se necessária nossa
orientação aos aspirantes e candidatos ao Ministério de que não há como alguém
sobreviver no pastorado, caso sinta que esta foi uma escolha sua e não de Deus.
Fonte: Monergismo Via:Eleitos de Deus
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